Carlos Wagner *
Pela carência de informações nas redações dos jornais, tem sido prejudicada a avaliação nos conteúdos dos noticiários do cotidiano do grupo político do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL – RJ). Prova disso é a avaliação que está sendo publicada nos conteúdos dos noticiários sobre o chamamento da manifestação de apoio ao presidente no próximo dia 26. De maneira apressada, nas entrelinhas do que estamos publicando, há uma comparação com o que aconteceu com o então presidente da República Fernando Collor, eleito em 1989 pelo PRN de Alagoas depois de uma disputa acirrada com Luiz Inácio Lula da Silva (PT – SP). Os fatos mostram que existem muito mais diferenças entre Collor e Bolsonaro do que pontos em comum que nos autorizem sugerir ao nosso leitor “que a história vai se repetir”.
Vejamos. Collor assumiu em 1990 e, em 1992, foi encurralado por acusações de corrupção e, em desespero, convocou os seus eleitores para vestirem camisetas com as cores da bandeira nacional e saírem às ruas para apoiá-lo. Eles vestiram roupas pretas. Collor tentou escapar do impeachment renunciando em 1992, e assumiu o seu vice, Itamar Franco, que governou até 1995. Ele implantou o Plano Real, que deu estabilidade econômica para o país e foi responsável por quase três décadas de progresso. Os pontos em comum entre Collor e Bolsonaro são poucos. Collor disputou com Lula, e Bolsonaro com o prestígio político do ex-presidente, que apoiou Fernando Haddad (PT – SP).
Os dois surfaram na onde anti-PT – há um vasto material na internet sobre o assunto. Há muitos fatores que separam a vitória de Collor e a de Bolsonaro. Collor construiu a sua vitória nos debates nas redes de TV. Um deles ficou famoso. O que aconteceu na Rede Globo foi editado beneficiando a candidatura Collor – há um vasto material sobre o assunto na internet. Lembremos que, em 1989, a internet era um assunto de ficção cientifica no Brasil. E todo o poder das comunicações pertencia às redes de TV, aos jornais e às rádios. Em 2018, a internet é uma realidade no país, e as redes sociais tiraram muito do poder da mídia tradicional. Tanto que Bolsonaro participou de um único debate no primeiro turno e concentrou a sua campanha nas redes sociais, seguindo o exemplo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E também atacou a mídia tradicional e não poupou munição na tentativa de desmoralizar os jornalistas.
Há outra diferença fundamental. Collor do setor de comunicação, a sua família tem uma rede de TVs afiliada da Rede Globo e jornais. Bolsonaro é capitão da reserva do Exército. Aqui é importante ficarmos atentos para o seguinte. No ano em que Collor se elegeu, a imagem das Forças Armadas entre os brasileiros era de ruim para pior, devido ao Regime Militar (1964 a 1985). Pesavam contra os militares acusações de torturadores, assassinos e, principalmente, de terem deixado como herança a hiperinflação. Collor era chamado pelos seus adversários de “filhote da ditadura”. Em 2018, a imagem das Forças Armadas na opinião pública é muito boa. E isso ajudou a eleger Bolsonaro. Aqui chegamos a um ponto muito importante dessa história. Logo que a campanha para a presidência da República de 2018 começou, não passava pela cabeça dos jornalistas nas redações a eleição de Bolsonaro. Mas isso não significava que o grupo político dele estivesse sendo formado. O conhecimento que temos de como esse grupo foi formado é escasso, e muita coisa ainda está no terreno das hipóteses. Por exemplo: como é que o economista Paulo Guedes entrou nessa história? Bolsonaro foi chutado pelas Forças Armadas devido a sua indisciplina. Como é que ele fez as pazes com os generais? Qual é o papel do pensador, jornalista, astrólogo e que se diz filósofo no grupo? Nós, repórteres, ainda não esclarecemos ao nosso leitor qual é a argamassa que une essa turma.
Saber como tudo aconteceu é importante para informar ao nosso leitor o que irá acontecer no dia seguinte à data programada para a manifestação. Caso ela seja cancelada, nós vamos precisar explicar. O que nós sabemos. É conversa fiada do grupo de Bolsonaro afirmar que fizeram campanha com poucos recursos econômicos. Não foi assim. Vários apoiadores, principalmente pequenos e médios empresários, financiaram por sua conta campanha política em suas regiões. Houve um apoio forte do setor de transporte rodoviário de cargas, do agronegócio e das redes de lojas. Por acontecer em regiões afastadas dos grandes centros, esse tipo de apoio tem grande poder de mobilização local. Nos centros urbanos, Bolsonaro contou com o apoio das igrejas pentecostais e dos sindicatos de policiais militares. Vamos ter uma boa história para esclarecer e contar no dia seguinte a 26 de maio. É simples assim. (Agência Brasil de Fato)
- Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora (RS, Brasil) de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais.