Por Thiago Hidalgo, CEO do Consórcio 3C e um dos desenvolvedores do mobizapSP, aplicativo de transporte individual de passageiros da Prefeitura de São Paulo
Estamos vivenciando uma revolução silenciosa nas ruas das nossas cidades, impulsionada principalmente pelos aplicativos de mobilidade urbana. Essas inovadoras plataformas têm sacudido as estruturas do transporte tradicional e desafiado o paradigma da posse de veículos particulares. Mas será que realmente compreendemos a magnitude dessa transformação? Será que estamos preparados para questionar o status quo e explorar novas perspectivas sobre a mobilidade individual?
É inegável que os apps de mobilidade urbana representam uma alternativa viável e atraente aos meios de transporte, como o metrô e os ônibus. Com a crescente urbanização e os desafios do trânsito nas cidades, essas plataformas oferecem uma série de benefícios. No entanto, a sua influência vai muito além. Elas estão desencadeando uma mudança cultural e comportamental que está redefinindo a forma como nos deslocamos e, consequentemente, moldando o futuro das nossas metrópoles.
Um dos impactos dessa revolução pode ser notado na redução da compra de veículos particulares. Segundo dados divulgados pela Fenabrave, em janeiro deste ano foram vendidos 130.460 automóveis e veículos comerciais leves, o que representa uma queda de 35% em comparação a dezembro de 2022. Como uma solução para estimular a compra de automóveis, o Governo Federal tem investido em medidas para baratear o custo de carros particulares. Entre as providências vistas nos últimos meses, está a redução dos impostos nos valores finais desses carros, o que pode contribuir para o crescimento do setor.
A iniciativa pode gerar mais vendas e atrair compradores, mas os apps de mobilidade também estão todos os dias buscando inovação para atrair mais passageiros, o que torna a área de transporte ainda mais competitiva. Não é à toa que, segundo levantamento de 2022 da startup Loft, as cidades brasileiras lideram no uso de transporte por app em toda a América Latina. A propósito, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte estão no topo do ranking.
O grande ponto é: adquirir um veículo próprio envolve uma série de despesas, como a compra do automóvel, seguro, manutenção, combustível e até estacionamento. Entretanto, a redução na compra de veículos particulares é apenas a ponta do iceberg. Nós devemos nos perguntar o que está realmente impulsionando essa mudança de paradigma. Ao utilizar os apps, os usuários podem evitar os custos fixos e pagar apenas pelas viagens realizadas, suprindo, mesmo assim, as necessidades de locomoção do dia a dia.
Por outro lado, baratear a compra de veículos novos também pode ser uma oportunidade para que negócios de apps de mobilidade urbana se expandam ainda mais, pois abrirá caminho para compradores se tornarem motoristas e gerarem renda extra com as corridas. Ao anunciar o fim do programa de carro zero com desconto, o Governo estimou 125 mil veículos vendidos. Quantos desses compradores se tornarão motoristas e contribuirão para o desenvolvimento da mobilidade urbana?
O potencial é enorme, visto que os apps oferecem conveniência, acessibilidade e uma experiência personalizada – tudo isso alinhado a uma abordagem mais sustentável de mobilidade. Esses fatores combinados estão desafiando as normas estabelecidas e colocando em xeque a ideia arraigada de que ter um carro é uma necessidade essencial.
Por isso, destaco sempre que a transformação da mobilidade urbana está ocorrendo diante dos nossos olhos – e há espaço para todos, seja para quem prefira ter um carro para as suas viagens particulares ou quem prioriza aos aplicativos de transporte como uma solução mais prática e econômica. Estamos testemunhando uma nova era da mobilidade, onde a combinação de tecnologia, sustentabilidade e conveniência está moldando o futuro das nossas cidades.