Treze mandados de prisão preventiva foram cumpridos na manhã desta terça-feira, 3, no Jardim Aureny IV e na Unidade Penal de Palmas, em desfavor de 13 faccionados membros de uma organização carioca de renome nacional, que são investigados por envolvimento em diversos homicídios ocorridos no primeiro semestre de 2023, em Palmas. Os mandados de prisão foram cumpridos, no âmbito da 4ª fase da Operação Gotham City, por policiais civis da 1ª Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP – Palmas), unidade responsável pelas investigações.
Em entrevista coletiva realizada na Delegacia-geral de Polícia Civil, em Palmas, o secretário da Segurança Pública do Tocantins, Wlademir Mota Oliveira, o delegado-geral Claudemir Luiz Ferreira e o delegado adjunto da 1ª DHPP, Eduardo Menezes, detalharam o trabalho investigativo realizado até o momento e que culminou nessas prisões.
“O empenho dos policiais civis que atuam tanto na DHPP quanto na inteligência nos possibilitou dar uma resposta à sociedade. As lideranças foram presas, os números foram caindo ao ponto de não registrarmos nenhum homicídio em Palmas no mês de janeiro. Nossa Capital vive um momento bem diferente. Esse ano foram 25 homicídios, apenas seis ligados à disputa de poder de facção. Ano passado, só em maio foram 25 homicídios. Isso mostra que a população pode confiar no trabalho da Polícia Civil, que está preparada para investigar os casos e levar os culpados à Justiça”, destacou o secretário Wlademir Mota Oliveira.
Crime alvo da 4ª fase
Os treze alvos da 4ª fase da operação estão ligados à morte de Ayrton Evangelista de Araújo, motoboy que foi morto no dia 8 de maio após sofrer uma emboscada no local de trabalho, uma pizzaria no plano diretor sul da Capital. “Durante a investigação descobrimos que o monitoramento dos passos da vítima começou ainda na pizzaria. Quatro ‘soldados’ da facção rival a de Ayrton chegaram ao estabelecimento e, passando-se por clientes, chegaram a comprar uma pizza para confirmar a presença do motoboy no local. Depois do fim do expediente, Ayrton é seguido pelos marginais a caminho de casa e se torna alvo de uma tocaia”, destacou o delegado Eduardo Menezes.
J.V.M.A. e L.G.J.L. foram os responsáveis por certificar se o motoboy estava trabalhando. Já M.S.S. e R.W.C.S., a bordo de uma motocicleta perseguiram a vítima após o expediente, sendo M.S.S. responsável pelos disparos que levaram Ayrton a óbito.
M.S.S. foi morto por membros da facção rival, no dia 15 de setembro do ano passado, em Gurupi, após se evadir das dependências do Centro de Internação Provisória da Região Sul (CEIP/SUL), onde cumpria medida socioeducativa de internação.
A investigação mostrou ainda que outros dez faccionados: G.G.J.B., D.R.S., P.H.M.G., J.L.C., J.R.S.N., A.S.S., T.R.S., H.H.S.N., W.O.C. (Luxúria) e L.F.M.G. (Beira Lago) também têm envolvimento no crime. Os dois últimos são líderes da facção e responsáveis por dar a voz de comando e suporte bélico para a execução do crime. Os demais são responsáveis por apontar Ayrton como sendo o autor do homicídio de Leonardo Gomes Zapani, membro da facção carioca, morto na tarde do dia 8 de maio, por um indivíduo a bordo de uma motocicleta, no Jardim Aureny I. Para eles, Ayrton era o motociclista que atirou em Leonardo e, por isso, teve sua morte decretada.
“Eles se mobilizaram para identificar quem foi o autor e aí eles identificaram que um dos suspeitos era o Ayrton. Começaram, então, a se comportar como se fossem investigadores, recorrendo a câmeras de segurança, pegando informações com pessoas. Até a análise do local do crime eles foram fazer. Diante do que colheram, decretaram a morte do Ayrton, consumando o crime na noite do mesmo dia”, destacou o delegado Eduardo.
Autor intelectual
Durante o primeiro semestre de 2023 ocorreram mais de 90 homicídios em Palmas, grande maioria em decorrência da disputa de poder em duas facções de renome nacional. As investigações apontaram que a onda de crimes teve início quando Dad Charada, que era membro de uma pequena facção goiana, aliada a uma grande facção paulista com atuação em todo o território nacional resolveu, em 2023, deixar sua facção e se aliar à facção carioca, também com atuação em todo o país.
Luxúria, que era um dos líderes da facção carioca, apoiou a vinda de Dad Charada para a organização, iniciando assim, um plano de mortes tendo como alvos integrantes da facção paulista.
O minucioso trabalho investigativo evidenciou a efetiva participação de Luxúria nos crimes cometidos. “Luxúria é a grande liderança responsável por financiar a guerra com o dinheiro oriundo da venda de drogas que ele gerenciava no Mato Grosso e aqui no Tocantins. Ele alimentava os soldados com muitas armas e munições”, destacou o delegado. Atualmente, Luxúria encontra-se preso na Unidade Penal de Palmas.
Ao longo da investigação, a DHPP se deparou com dois grupos de aplicativo de mensagens, nos quais os integrantes organizavam a logística dos homicídios, comemoravam o sucesso das empreitadas criminosas e debochavam das vítimas. “Estamos há oito meses analisando, ininterruptamente, dois grupos de whatsapp criados pela facção carioca, no qual planejavam os homicídios. Essa análise nos permitiu ver como eles agiam nesses crimes. Os soldados eram orientados a baixar aplicativos de geolocalização porque alguns aplicativos mostram onde viaturas estão posicionadas. Eles estavam focados em cometer o maior número de homicídios possível. Com total desrespeito à vida humana, eles faziam questão de postar vídeos nas redes sociais em perfis fakes criados por eles”, finalizou o delegado.
Outros homicídios
Além de Ayrton, durante a coletiva, foram lidos os nomes de mais 20 vítimas de homicídios, cujos autores estão sendo identificados ao longo das investigações. As vítimas são: Pedro Duarte e Silva, Kauã Vinícius Lobo Rodrigues, Marcos Douglas Gomes Freitas, Marcos Vitor Elias Ribeiro, Wender Carvalho Borges, Victor Gabriel Alves Saraiva dos Santos, Clevis Passos Nunes, Artur Uchôa de Matos, Wewerton Rodrigues Lima, Geferson Rodrigues Lima, Aladione Araújo, Jardel Rodrigues Pereira, Ikaro Felipe Santos de Sousa, Ricardo Barra Guimarães, Wesley Dias Carvalho, Evaldo Rodrigues de Freitas Neto, Diuliam Marinho Fernandes, Ronildo Alves Dias, Carlos André Costa Martins e Leandro Ribeiro Nogueira.
Texto: Vania Machado/Governo do Tocantins